Já
estamos na metade do mês e ainda perdidos como no início. ainda
mais agora com esse horário.
eu
gosto.
eu
sei que gosta. pra ficar na rua. no parque. com o pé na grama.
olhando pro céu, pras coisas. sim, é bom. principalmente pra
esquecer, ou lembrar, que já vai ter quase um ano. já é verão de
novo. como quando as coisas começaram a acontecer e você começou a
acreditar que teria uma vida mansa com tudo que já tinha.
as
coisas mudaram de um jeito...
é,
mudaram. como se você precisasse aprender que as coisas sempre
mudam. mesmo que você não queira. principalmente quando precisa
aprender alguma coisa importante. ou quando precisa desesperadamente
aprender a ser outra pessoa. mesmo sem querer.
eu
nunca iria imaginar, um ano atrás, que pensaria como penso hoje. mas
de certa forma, acho que no fundo eu esperava por isso.
no
fundo tu sempre sabia do que precisava. e do que queria. o problema é
sempre ir atrás.
mas
eu vou. sempre vamos. de uma forma ou de outra.
mesmo
sem querer?
é,
mesmo sem querer.
você
é louca.
você
também.
mas
você não precisava ter inventado esse momento workaholic
na vida. já tem quase um ano. e cadê o resto? tá compensando?
que
tu acha?
acho
que no fundo tu não muda é nada. esses momentos de exaustão. de
não conseguir dormir. de não conseguir fazer mais nada. de querer
desistir de tudo.
como
assim de tudo?
é,
eu sei. de achar que nada mais tem sentido. de não acreditar em mais
nada. de não querer mais saber de ficar olhando pra esse monte de
coisa nenhuma.
de
ver o tempo e as coisas passarem a milhão. e você ali. parado.
trocando os canais da tv a cabo. como se nada fosse tão importante
assim.
nada
é tão importante assim. NADA. NADA. NADA.
acontece
que é sim. e você só não quer que seja porque fica se defendendo.
achando que o mundo todo é uma grande ameaça a sua paz de espírito.
e
não é? não é?
ok.
é claro que é.
como
se aqui dentro já não houvesse perturbação o suficiente.
e
então?
então
nós vamos continuar fazendo a mesma coisa. mesmo que não se queira.
mesmo que seja diferente de tudo que já foi. trabalharemos demais.
comeremos e viajaremos demais, às vezes. cometeremos excessos. nos
estragaremos. de uma forma ou de outra. e sempre trabalharemos
demais. para ter dinheiro para pagar as contas, que fizemos para
compensar o tempo que passamos consumindo nossa vida com trabalho.
e
rezaremos aos nossos deuses ou adoraremos aos nossos ídolos, como
uma forma desesperada de nos ligarmos a algo um pouco maior do que
isso tudo a nossa volta, que brilha como diamante ou faíscas de
maçarico em nossos olhos cansados.
e a
tudo isso buscaremos refúgio em todas as formas possíveis,
orgânicas ou inorgânicas para melhorarmos nossa vida. exercícios
físicos remédios carros medicamentos drogas alface álcooL café
açúcar vídeo-game adoçante salgadinho coca-cola com trakinas
bicicleta chocolate poesia sexo carne whisky com gelo ou puro e
amargo mesmo, que nem a vida.
então
nada vai mudar? e terminará um ano e começará outro, assim como
cada mês, cada semana, cada dia ou cada noite que simplesmente se
vai?
ou
tudo irá mudar e antes que perceba lá estará você outra vez outra
pessoa. e tudo estará igual e diferente. a cada dia?
vai.
e não vai.
mesmo
que você queira.
ou
não.
Um comentário:
Excelente!
Crônica? Depois a gente vê!
Abraços, Rubem
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